Cântico
"Não ames como os homens amam.
Não ames com amor.
Ama sem amor.
Ama sem querer.
Ama sem sentir.
Ama como se fosses outro.
Como se fosses amar.
Sem esperar.
Por não esperar.
Tão separado do que ama, em ti,
Que não te inquiete
Se o amor leva à felicidade,
Se leva à morte,
Se leva a algum destino.
Se te leva.
E se vai, ele mesmo..."
Cecília Meireles
E eu enquanto lia sentia as palavras me golpeando, primeiro ao coração com muita força, depois a garganta que aperta não sei se por querer chorar um choro velho ou o choro novo que é da surpresa de se deparar com tanta beleza, de uma forma súbita. Eu lia em voz alta e aos poucos minha leitura se tornou uma súplica. Por favor, por favor... Por favor o quê? Nem sei mais o que quero; acho que quero o que não existe, ou quero o grande, o indizível, o incabível! Deus meu, não aguento mais querer, esse não caber em si eterno... Qual é o próximo passo nesta vida para uma alma insatisfeita? A carbonização? Pois sinto que sou queimada viva. Isso é de um prazer, mas também traz a dor de ter uma ferida aberta bem no meio do corpo.
Outro dia passei a madrugada na janela. Eu estava diante do mar e ouvi-lo tão alto nessa hora tão insuportavelmente sedutora tira o sono de qualquer pagã. O silêncio por trás do mar gritava e meu coração competia com ambos. As ondas quebravam. Em mim, em mim. Eu fui a pedra. Fiquei toda de sal. Até hoje tenho sal nos ouvidos e o corpo quente do sol subentendido.
Novamente eu me perguntava "por que, porquê?". Novamente eu queria, eu queria alguma coisa que não existia; aquele Um que não se pode engolir. Eu era uma mulher feliz e vazia diante da eternidade. Abandonada pela força do nascimento. Vivo assim jogada ao vento, com os pés nessa areia pré-histórica, como se soubesse aonde ir. Pólen soprado por um dragão, carregada de luz, espero e anseio o mel.
"Mas há a vida que é para ser intensamente vivida, há o amor. Que tem que ser vivido até a última gota. Sem nenhum medo. Não mata." Texto de Clarice Lispector
Que blog é esse?
Silenciosamente a raíz procura.
Me interessa o que dá impulso
a origem, o fulgor
o Quem por detrás.
"Pois cada um de nós sofre com a idéia de desaparecer, sem ser ouvido e notado, num universo indiferente, e por isso quer, enquanto ainda é tempo, transformar a si mesmo em seu próprio universo de palavras". Milan Kundera
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