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"Pois cada um de nós sofre com a idéia de desaparecer, sem ser ouvido e notado, num universo indiferente, e por isso quer, enquanto ainda é tempo, transformar a si mesmo em seu próprio universo de palavras". Milan Kundera



quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

A arte de transitar

Identifico-me tanto quando se fala de embriaguez e delírio porque - já sei - porque sou essa pessoa embriagada e delirante de quem se fala. Mesmo quando não uso drogas, não é necessário. O delírio é um estado de alma em que consta perceber os quase imperceptíveis (às pessoas ordinárias) vapores que emanam de coisas simples ou das coisas essenciais - como a luz da lua e os abalos sísmicos; ou ainda das coisas triviais das quais extraímos um sumo e fazemos uma sopa.
A sopa cotidiana não tomamos, ficamos magros sentados à mesa enquanto moscas sobrevoam a comida. Magros e alimentados de amor usufruímos de outras distrações. Canta-se como nunca, e ouve-se. De repente um diálogo matinal torna-se uma ópera ao sol e enquanto a garganta vibra andamos pelo chão movediço levando nas mãos uma xícara de café. A casa toda vibra, as paredes começam a rachar, os vidros das janelas se quebram; o mundo tal como conhecemos está ruindo e o universo conspira a nosso favor. Continuamos a dançar fazendo da mesma força que destrói o nosso alimento. Existe uma alegria selvagem. As gotas escuras da bebida amarga caem no chão marcando um caminho excitante que por desatenção pode nos levar ao chão igualmente.
Cai, mas não se cai, pois aprendemos a saltar de paraquedas voluntariamente diante de precipícios assustadores. Constatamos que a queda é um início e o abandono de si mesmo aí se revela como um profundo amor à vida. Significa que experimentamos a dor muitas vezes e temos certeza de que ainda haveremos de experimentar, mas agora, entregues ao delírio e à embriaguez dançamos conforme a dança e transitamos porque somos livres! 

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